Em 1992 sai da cidade de Itaquaquecetuba para servir o
Exército no Batalhão Borba Gato na longínqua Cidade de Pindamonhangaba no Vale
do Paraíba, confesso que me apaixonei pela Cidade logo no primeiro dia. O ano foi
corrido e atribulado. Ordem unida, treinamento de tiro, exercícios físicos,
hierarquia, pressão, etc.
No entanto, a noite a gente saia para dar um rolê pela
cidade, que era bem tranquila, lembro de alguns barzinhos, a Igreja da Matriz,
o Bosque da Princesa e a Praça da Cascata que tinha um chafariz que jorrava água
vinte quatro horas por dia. Havia também muitas garotas nos rodeando conhecidas
como Maria Batalhão.
O ano de 1992 foi um ano bem Rock n`Roll eu ouvia muito Nirvana, Pearl Jam e Alice
Chains. Logicamente que no Batalhão as músicas prediletas da maioria dos
soldados era o pagode da Eliana de Lima, Raça Negra e o rap dos Racionais Mc´s. Naquele tempo eu já andava na contramão.
Eu tenho história para contar nessas ruas, monumentos e
lugares de Pindamonhangaba. Recordo-me que em serviço uma vez atrai uma Maria
Batalhão dentro da Guarita no meio da madrugada, tive que colocar minhas mãos
em sua boca pois, ela era muito escandalosa, teve uma outra vez numa noite fria de
inverno que, encostado na parede do Cemitério Municipal fizemos o coito. Mas,
foi uma que não se encaixa no termo “Maria Batalhão” que fez da bela Cidade de
Pindamonhangaba uma cicatriz incurável no meu corpo.
Sentado no banco da Praça da Cascata sentido os respingos das
águas do grande chafariz que, avistei uma bela garota carregando toda feliz debaixo
dos braços o vinil recém- lançado do Stone Temple Pilots. Corri atrás e quando
alcancei eu disse todo sem jeito:
_Stone Temple Pilots?
Ela com riso assustada respondeu:
_É.. Acabei de comprar. Ouvi semana passada na MTV, fiz
encomenda e chegou hoje.
Bem assim começa a trilha sonora desta cicatriz incurável:
Hoje eu estou morando no Sul de Santa Catarina. Sim, lembro-me
dos olhos dela, a voz nem tanto, não importa, ainda assim sinto respiração dela e, já
passaram vinte três anos e ainda penso nela, ainda ouço o nosso álbum favorito “Core”.
Tornei-me avô semana passada e algo me diz que já vivi mais da metade da minha
vida, o tempo voa e é implacável, um infarto me deixou debilitado, com
síndrome do pânico e emotivo demais. Remédio para dormir e outro para manter a
pressão. Sinto a necessidade de ver ela apenas para dizer que ainda penso em
dar um jeito em nossa situação, como sempre dizia e, ainda digo toda vez que me
sinto sozinho, triste e acabado.
Estou pensando na próxima férias ir para Aparecida do Norte
e quem sabe aparecer em Pindamonhangaba. Será que nesses vinte três anos a
cidade modificou bastante? A Praça? O Bosque? A Avenida Nossa Senhora do Bom
Sucesso?
Recordo-me agora que foi ouvindo Stone Temple Pilots no
Walkman dela que, fumei maconha pela primeira vez diante das águas amareladas
do Rio Paraíba do Sul, no Bosque da Princesa. Não sei quem tomou a iniciativa
mas, nos beijamos pela primeira vez e foi ali mesmo no Bosque, atrás de um tronco enorme
de uma arvore centenária que fizemos amor.
A saudade está corroendo-me... Ainda sinto falta dela, falta
de Pindamonhangaba, falta do Stone Temple Pilots, falta do Bosque da Princesa.
Será que ela ainda espera que eu dê jeito na situação? Ou será que ela desistiu?
Pindamonhangaba
Não importa, quando eu voltar para Pindamonhangaba vou
colocar no volume máximo o álbum "Core" em meu MP3, vou caminhar com cabeça
erguida pelo Mercadão, pela igreja Matriz e o Batalhão Borba Gato. Vou
procura-la em todos os seus lugares favoritos e quando avista-la vou correr atrás
dela como se fosse a primeira vez que há vi com vinil do Stone Temple Pilots debaixo
dos braços.
E ela rindo assustada...