My Bloody Valentine - MBV
Que tudo termine sem
palavras e olhares, termine sem final e sem continuação. Sem lembranças e sem
remorsos, que haja chuva, que haja vento e que também haja frio. Que silencio
prolongue um pouco mais, que tenha curvas perigosas na estrada e morros
íngremes no percurso.
Eu não sei se estou
alegre ou estou triste, tenho alergias de amores que terminam, coriza irritante
que não me deixa dormir e a vontade de estar num outro planeta.
Chuva, vento e frio.
A janela aberta e a luz acesa do quarto, na mesa de cabeceira Amitriptilina e
copo de água. No aparelho de som do lado oposto toca o novo álbum do My Blood
Valentine.
Há um disco voador
sobrevoando minha casa atraídos provavelmente pela música emanada pelo aparelho
de som:
She Found Now -
Tanto tempo esperando o que era esperado a confusão sonora disfarçada na doçura
vocal, acendo incensos nos quatro cantos do quarto e pernilongos camicazes que
irrompem a escuridão.
Agora são dois
discos voadores e, além pernilongos há baratas camicazes também. Sento-me de
costas para janela depois de testemunhar um mendigo e seu cachorro sendo
abduzindo pelo disco voador que chegou primeiro. "Only Tomorrow" faz
trilha sonora perfeita do meu desespero, da batida acelerada do meu coração, do
calafrio que vem de baixo para cima, dos olhos desconfiados mas, ainda
castanhos, da vontade de rastejar até aparelho de som e desligar aqueles ruídos
ensurdecedores, aqueles riffs desencontrados porém entre eu e o aparelho existem
discos voadores, o coração acelerado e Only Tomorrow.
Penso em ligar pra você
e falar sobre o que está acontecendo aqui. No entanto eu imagino você dizer:
_ Você é muito cara
de pau mesmo. Você me humilhou quase agora, me deixou falando sozinha. Sabe
Rober para com isso. Pare com esses remédios para dormir, pare com essa
bebedeira, pare com essas músicas esquisitas que você ouve e, agora essa, um
mendigo e seu cachorro abduzindo por disco voador.
Crio coragem e me
levanto com ideia fixa que discos voadores realmente não existem, que essas músicas
esquisitas e barulhentas são as verdadeiras culpadas por meu colapso mental. Acendo
um cigarro criando círculos com a fumaça, caminho mais leve e com sorriso
fresco em direção do aparelho de som, sem olhar para trás com a ideia fixa que discos
voadores não existem.
E nesse momento eu
ouço os primeiros acordes de I Another Way e inexplicavelmente começo a dançar
feito Ian Curtis com alguns passos no improviso de Thom Yorke. Porém a música
mais chapada do álbum estar por vir mas, antes que isto aconteça olho para trás
e testemunho dezenas de discos voadores com luzes coloridas piscando
freneticamente.
Nothing Is é a música do ano. Ian Curtis toma
posse do meu corpo numa desvairada dança epilética. Que doideira é essa.
Exausto
caio na cama antes do final de Wonder 2 e com olhos vidrados eu penso em você sem ter a certeza ainda se estou alegre ou triste, tenho alergias de amores que
terminam. Lá fora os discos voadores já foram embora, tomo dois comprimidos de
Amitriptilina...
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