domingo, 27 de dezembro de 2015

Stone Temple Pilots - Core


Em 1992 sai da cidade de Itaquaquecetuba para servir o Exército no Batalhão Borba Gato na longínqua Cidade de Pindamonhangaba no Vale do Paraíba, confesso que me apaixonei pela Cidade logo no primeiro dia. O ano foi corrido e atribulado. Ordem unida, treinamento de tiro, exercícios físicos, hierarquia, pressão, etc.
No entanto, a noite a gente saia para dar um rolê pela cidade, que era bem tranquila, lembro de alguns barzinhos, a Igreja da Matriz, o Bosque da Princesa e a Praça da Cascata que tinha um chafariz que jorrava água vinte quatro horas por dia. Havia também muitas garotas nos rodeando conhecidas como Maria Batalhão.



O ano de 1992 foi um ano bem Rock n`Roll  eu ouvia muito Nirvana, Pearl Jam e Alice Chains. Logicamente que no Batalhão as músicas prediletas da maioria dos soldados era o pagode da Eliana de Lima, Raça Negra e o rap dos Racionais Mc´s. Naquele tempo eu já andava na contramão.


                                          


Eu tenho história para contar nessas ruas, monumentos e lugares de Pindamonhangaba. Recordo-me que em serviço uma vez atrai uma Maria Batalhão dentro da Guarita no meio da madrugada, tive que colocar minhas mãos em sua boca pois, ela era muito escandalosa, teve uma outra vez numa noite fria de inverno que, encostado na parede do Cemitério Municipal fizemos o coito. Mas, foi uma que não se encaixa no termo “Maria Batalhão” que fez da bela Cidade de Pindamonhangaba uma cicatriz incurável no meu corpo.
Sentado no banco da Praça da Cascata sentido os respingos das águas do grande chafariz que, avistei uma bela garota carregando toda feliz debaixo dos braços o vinil recém- lançado do Stone Temple Pilots. Corri atrás e quando alcancei eu disse todo sem jeito:

_Stone Temple Pilots?

Ela com riso assustada respondeu:

_É.. Acabei de comprar. Ouvi semana passada na MTV, fiz encomenda e chegou hoje.

Bem assim começa a trilha sonora desta cicatriz incurável:




Hoje eu estou morando no Sul de Santa Catarina. Sim, lembro-me dos olhos dela, a voz nem tanto, não importa, ainda assim sinto respiração dela e, já passaram vinte três anos e ainda penso nela, ainda ouço o nosso álbum favorito “Core”. Tornei-me avô semana passada e algo me diz que já vivi mais da metade da minha vida, o tempo voa e é implacável, um infarto me deixou debilitado, com síndrome do pânico e emotivo demais. Remédio para dormir e outro para manter a pressão. Sinto a necessidade de ver ela apenas para dizer que ainda penso em dar um jeito em nossa situação, como sempre dizia e, ainda digo toda vez que me sinto sozinho, triste e acabado.


Estou pensando na próxima férias ir para Aparecida do Norte e quem sabe aparecer em Pindamonhangaba. Será que nesses vinte três anos a cidade modificou bastante? A Praça? O Bosque? A Avenida Nossa Senhora do Bom Sucesso?



Recordo-me agora que foi ouvindo Stone Temple Pilots no Walkman dela que, fumei maconha pela primeira vez diante das águas amareladas do Rio Paraíba do Sul, no Bosque da Princesa. Não sei quem tomou a iniciativa mas, nos beijamos pela primeira vez e foi ali mesmo no Bosque, atrás de um tronco enorme de uma arvore centenária que fizemos amor.



A saudade está corroendo-me... Ainda sinto falta dela, falta de Pindamonhangaba, falta do Stone Temple Pilots, falta do Bosque da Princesa. Será que ela ainda espera que eu dê jeito na situação? Ou será que ela desistiu?

Pindamonhangaba


Não importa, quando eu voltar para Pindamonhangaba vou colocar no volume máximo o álbum "Core" em meu MP3, vou caminhar com cabeça erguida pelo Mercadão, pela igreja Matriz e o Batalhão Borba Gato. Vou procura-la em todos os seus lugares favoritos e quando avista-la vou correr atrás dela como se fosse a primeira vez que há vi com vinil do Stone Temple Pilots debaixo dos braços.

E ela rindo assustada...


sábado, 21 de novembro de 2015

New Order - Music Complete




Para aonde vai chuva? Aonde ela termina? Fico aqui pensando enquanto ele não atende o telefone.
Fico arrependida de ter ligado e, quando penso em desistir ele atende.
_Alô???
Ouço sua voz penso em desligar, ouço vozes de fundo e a música a nova New Order - Restless... ouço também o barulho da chuva, ele não deve estar tão longe.




_Alô???
Ele insiste, eu ouço uma a voz de mulher indagando:
_Quem é?
_Eu não sei. Não responde.
Ouço risadas e a introdução da segunda música Singularity do novo álbum Music Complete. De repente um trovão ensurdecedor assustou-me que quase me fez derrubar o celular.




Outra vez a mesma voz mulher.
_Hei... Sua cerveja vai esquentar.
_ Espera ai – diz ele e continua: _ É você Lê?
Lê??? Sou Renata, O que poderia ser Lê... Leandro, Leandra, Alessandro, Alessandra, Alexsandro, Alexsandra... Poderia ser centenas de combinações mas, a possibilidade de Lê ser Renata é quase nenhuma. Na verdade tal possibilidade nem existe.
_ Quem é Lê?
Agora quem questiona é a voz da mulher.
_Lê é uma amiga minha Ma.
Na terceira música do novo álbum do New Order - Plastic sou eu quem fica matutando outra vez. Ma? Quem seria Ma?





Márcia, Mariana, Maria, Marcela com L, Marcella com dois L, Marieta, Maristela, Madalena, não Madalena sem chance é minha melhor amiga, Marta, Marieta...
Então ele continuou:
_Eu sei que é você Lê.
Eu já estava decidida desligar o celular mais a oitava música Nothing But A Fool é a minha favorita, viajei que só depois do seu termino que voltei a ouvir voz dele:




_... Sabe que eu te amo.
_Que me ama??? – Questionei sem querer ainda entorpecido pela viagem musical.
_ Até que enfim você respondeu Lê.
Pensei em dizer “ Lê é a puta que pariu” no entanto não disse nada. Apenas olhei para luz do poste, observei os riscos que os pingos da chuva fazem antes de cair o chão, antes de se juntar e formar correntezas de águas. Deixei rolar algumas lágrimas mornas não de tristeza, mas de uma raiva gigantesca que apoderava o meu corpo inteiro.
_Lê? - ele insistiu.
_Lê é a puta que pariu – Não aguentei ainda observando os ricos dos pingos da chuva e interceptando outras lágrimas mornas oriundas dos meus olhos.
Continuei:
_Escuta foda-se a Lê, a Ma, a Li, a Jô e todas essas pragas. Estou me sentindo mal, muito mal mesmo de ser nessa tua lista talvez a Re. Isso me enoja demais, ser vítima dessa sua conversinha melada... Apenas não entendo que uma pessoa sem caráter como você possa ter um bom gosto musical. Sei lá, acho que deveria ser proibido.
Joguei o celular numa grande poça da água e corri, corri feita louca enfrentando o vento e a chuva. Raios e trovões não conseguiram me impedir e, outras lágrimas mornas esfriaram com os pingos da chuva, livrei-me das minhas sandálias na esquina de alguma rua que agora não recordo o nome, meu coração parecia que ia sair pela boca porém, continuei acelerada, que nem percebi a queda do brinco da minha orelha direita. Lembro-me que taxista tentou me acompanhar:
_Ei moça aconteceu alguma coisa?

Pensei em dizer alguma coisa mais não disse nada, talvez ele não entenderia que a minha pressa era apenas para chegar em casa e ouvir as quatro ultimas músicas do álbum Music Complete. 


sábado, 31 de outubro de 2015

Ougth – Sun Coming Down


Ougth – Sun Coming Down

O que faz uma pessoa voltar ao vício? O que faz uma pessoa perder controle novamente?

Eu ouvi dezenas de histórias de ex viciados que voltaram ao vicio com um apetite ainda maior. Teve uma história que o cara tinha parado com pó até encontrar sua esposa, sua maior incentivadora de parar com o vício, trepando com o seu melhor amigo no seu quarto.
Está eu ouvi dentro de um ônibus. Duas mulheres conversavam no banco na minha frente:
_ Hum. Ele voltou a usar droga de novo. Descobriu que sua filha caçula é uma prostituta. Coitado, só ele não sabia que sua filha é maior vadia da cidade.

Por assédio moral na empresa um rapaz voltou ao vício e, matou seu chefe... Teve outro caso que cara voltou ao vício por achar a vida sem droga careta demais.

Eu voltei ao vício... e senti o maior transgressor pelo simples fato de andar pelas ruas com uma lata de cerveja na mão, fone no ouvido no volume máximo. O segundo álbum da banda “Ought – Sun Coming Down”é fodástico.


Não sei ao certo o dia que decidi parar com tudo mas, com certeza foi ouvindo o álbum broxante do Muse – The 2nd Law que, decidi parar com as drogas e, desde então eu consegui me manter limpo.

Durante este período eu ouvi alguns álbuns bem interessantes mas, nada que pudesse me fazer levantar do sofá e ir correndo no bar mais próximo, encher a cara, embebedar até cair e dormir na calçada.

Olha, motivos não faltaram para voltar, e, nessa mesma ordem que eu escrevo:
 Perdi o emprego, a esposa e os amigos. Depois perdi o carro, a fé e a autoestima. Para sobreviver vendi a coleção de vinil dos The Beatles, do Nirvana e da Janis.

Arranjei um novo emprego de vigia noturno e uma nova religião, enturmei com pessoas do bem e aos Domingos na Praça do centro da cidade eu pregava palavras de Deus. Minha nova namorada tem a metade da minha idade, seus olhos são verdes e seus cabelos compridos. No entanto numa quinta-feira chuvosa de folga fui conduzindo no piloto automático a tentação de abrir o Blog Floga-se, o meu preferido nos tempos de perdição e lá, Fernando Augusto Lopes um aliciador musical do mal disse sobre o álbum Sun Coming Down: um pós-punk classudo, ora lembrando The Fall, ora lembrando Davi Bowie.
Sim. Voltei para o vício:  Perdi o emprego de vigia noturno, a religião e a namorada de olhos verdes.




Ougth – Sun Coming Down é bom do começo ao fim, é viciante! Eu sei também que se um dia eu sentir arrependido de novo dessa vida de vícios, sempre haverá alguma coisa do Muse para ouvir.

sábado, 10 de outubro de 2015

Radiohead - Ok Computer


Radiohead - OK COMPUTER


_Papai estou  cansado e com dor nas pernas, eu quero colo.
_ Larga disso menino. Você não queria tanto conhecer a praia, agora vai querer colo? Vai brincar com seus irmãos.
_Agora é sério, estou com dor nas pernas...

Então comecei a chorar.

Isso já faz dezoito anos, meu primeiro dia na praia também foi o meu último. Nunca mais voltei para a praia, nunca mais testemunhei a onda do mar e nunca mais voltei a andar. Naquele fatídico dia eu tinha apenas sete anos. Lembro-me que na véspera eu não consegui dormi sonhando com o mar. A alegria instaurada no rosto de Mamãe, do meu pai e dos meus irmãos são indescritíveis e inesquecíveis... Alegria que eu jamais testemunharia novamente nos rostos dessas mesmas pessoas. Eu, o filho caçula e o mais parecido com o Papai, o que valia muitos comentários:

_ “Cara de um focinho do outro”.

_ “Lá vai o xodozinho passear com o Papai”.

 E eu ia mesmo passear ou ouvir seus discos favoritos.



_Está banda é o Radiohead... Guarde este nome Juninho, você um dia ouvirá muito sobre eles e, sabe que quando você ouvir o Radiohead daqui sei lá, dez, quinze, vinte anos, você lembrará do Papai.
Hoje faz exatamente dezoito anos do dia que fomos para praia e eu, estou ouvindo Radiohead e as lembranças me deprime absurdamente.

Papai e mamãe no banco da frente. Papai dirigindo e eu, envolta dos meus irmãos no banco de trás. Papai querendo provar minha esperteza ligou o rádio do carro:
_Ouça amor? Juninho quem está cantando?
Respondi com toda convicção.
_Radiohead.
_Qual o álbum?
_Ok Computer.
_Qual é a Música?
_Airbag... Aumenta ai papai.
Então papai sorriu na direção de mamãe todo satisfeito.


 Recordo-me como se fosse hoje a velocidade que eu sai do carro em direção ao mar, do choque com a onda, do gosto da água salgada, da alegria de meus irmãos, dos guarda-sóis coloridos, do vendedor de camarões, do sorveteiro e do beliscão que Papai recebeu de Mamãe após olhar uma morena de biquíni. Sempre que essas lembranças vêm, traz consigo aleatoriamente músicas do álbum do OK Computer.



No finalzinho da tarde nuvens escuras se formaram no céu e, justamente quando uma enorme cobriu o sol uma fisgada forte em minha perna direita me fez ficar manquitolando, com muito esforço consegui me aproximar do meu Papai:

_Papai estou cansado e com dor nas pernas, quero colo.
_ Larga disso menino. Você não queria tanto conhecer a praia, agora vai querer colo? Vai brincar com seus irmãos.
_Agora é sério, estou com dor nas pernas...

Então comecei a chorar.

Aqueles passos doloridos para aproximar do meu Papai, também foram meus últimos passos. Quando ele me pegou no colo foi também a última que me viu de pé sem ajuda de muletas. O mais próximo que os médicos chegaram é uma doença chamada Síndrome de Guillain-Barré.
Fisioterapia com trilha sonora de Ok Computer, infiltrações, injeções, massagens, dor muita dor e trilha de Ok computer. Cama, muletas, cadeiras de rodas com Ok Computer.



E foi também ouvindo Ok Computer que eu testemunhei a decadência do meu querido Papai que, tantas vezes não conseguiu segurar suas as lagrimas, chorando compulsivamente abraçando-me  e, algumas vezes blasfemando  Deus, discutindo com minha mãe e batendo a porta do quarto com tanta força que o barulho ficava ecoando em minha cabeça a noite inteira e, até hoje continua ecoando.
Papai perdeu o controle da bebida, sua barba cresceu e a esperança da minha cura ele perdeu. Começou a se culpar por minha doença:
_Se a gente não tivesse ido para a praia naquele maldito dia nada disso teria acontecido.


Uma noite Papai entrou no quarto e quebrou o cd Ok Computer, o aparelho do som e as imagens sacras de minha mãe. Meu irmão que tentou segura-lo, levou um soco na boca, meu querido Papai estava irreconhecível, incontrolável, barbudo, bêbado e desempregado.



No dia seguinte minha Mamãe comprou outro aparelho de som e outro cd Ok Computer do Radiohead. O meu Papai sumiu de casa e, somente quase um ano depois chegou a triste notícia do seu falecimento. Morreu sozinho numa cidade vizinha, em baixo de uma ponte com tiro na cabeça. Diz a polícia que foi suicídio.



Hoje eu ganhei uma cadeira de roda motorizada da Prefeitura da minha cidade e as lembranças do meu Papai vieram acompanhada de uma chuva torrencial, entre as nuvens escuras eu vi o desenho do rosto do meu Papai sorrindo porém, um relâmpago quase me cegou e um trovão fez tudo tremer... Voltei pra sala e liguei o som.





domingo, 13 de setembro de 2015

Los Hermanos - Ventura



Há exatamente quatro meses conheci Maicon, funcionário de experiência na linha de produção na máquina na qual eu era operador havia seis anos. Introspectivo o jovem de riso difícil, cabisbaixo e voz baixa, Maicon parecia viver em outro mundo o que dificultava o meu ensinamento.
Outra coisa que chamava bastante minha atenção é número altíssimo de tropeços, ele sempre estava tropeçando em alguma coisa o que é bastante perigoso em uma empresa, outra coisa que me intrigava em Maicon era sua devoção pela banda Los Hermanos.
Sempre cantarolando uma canção:  
Abre essa porta
Que direito você tem de me privar?
Desse castelo que eu construí
Pra te guardar de todo mal
Desse universo que eu desenhei
Pra nós, pra nós...



Num belo dia que a produção parou devido à queda de energia ele se aproximou-se e disse:
_Ai meu Deus, tomara que tudo dê certo aqui
Eu que estava tomando um cafezinho, achei que fosse algum trecho da música do Los Hermanos, esperei. Como não teve continuação ou refrão dei outro trago no café e indaguei:
_Tudo certo o quê?
Ele suspirou fundo e soltou o ar, passou a mão esquerda pelo rosto, contornou a cabeça, roçou a barba ruiva e áspera, finalizando esfregou os lábios com as pontas do dedo e respondeu:
_Tomara que eu me efetive nessa empresa.
_Fique despreocupado, vou fazer a cabeça do meu encarregado pra ele efetivar você. Ele é meu amigo tomamos cervejas quase que todos os dias, vou falar de você pra ele.
_Nossa!!! Obrigado. Sabe, antes de entrar aqui trabalhei em três empresas e as três faliram mas, sei lá... Aqui vai ser diferente.
Não sei o por quê? Aquelas palavras me fizeram arrepiar. Como assim? As últimas três empresas faliram?
Então ele começou cantarolar:
De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente?
Ele não sabe ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil...



Bem, aquele dia o encontro que ia ter com o meu encarregado que é meu amigo foi desmarcado com a triste notícia que ele tinha sido demitido, pelos comentários que rolavam na produção devido à crise dezenas de funcionários tinham perdido o emprego e outros tantos entraram em férias coletivas.
No dia seguinte, com a empresa quase que vazia fui eu que comecei a cantarolar a música dos Los Hermanos, dentro da cabine rodeados de botões e observando a chegada de Maicon, cabisbaixo e tropeçando em tudo:
Olha só, que cara estranho que chegou
Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém...



Final da história: Maicon não foi admitido na empresa, pior ainda, a empresa faliu. Culpa da crise? Do Maicon? Do Los Hermanos? Eu não sei, estou indo para o terceiro mês desempregado e o Maicon me manda mensagem quase que todos os dias...
_E ai conseguiu emprego? Se conseguir me avisa por favor, tá osso aqui.
O que mais apavora na mensagem de voz de Maicon que, sempre de fundo e ouço essa música:
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar

Eu que já não quero mais ser um vencedor

Levo a vida devagar pra não faltar amor


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Nirvana - In Utero



As melhores notícias as vezes são as piores. Ri enquanto sentia seus chutes em meu útero. Construirei nossa casa no meio dessa droga toda e, definharei na carência e pela falta de controle, eu sinto dor por dentro e por fora. Queria ser forte mas, desmancho em lagrimas com e outras vezes sem sentimentos. Dirijo palavras sem virgulas e acentos, acabo frases com reticências. Até onde eu posso me afundar com juízo pois, depois que ele for embora a insanidade me abraçará.


Queria apenas acreditar que o vento que antecede a tempestade é calmo no entanto, ele é impiedoso... Arrancou o telhado e derrubou árvores. Eu queria que você acreditasse que um dia eu pensei em ser feliz mas, existe vitorias e derrotas e, eu escolhi as derrotas para debruçar na ponte e ver as águas do Rio levar minhas vitorias. Sim, aquelas que deixei fugir sem ao menos lutar.




Eu só queria deixar um pouquinho deste meu riso que um dia foi encantador e hoje, é apenas camuflagem de uma criança que faleceu criança há muito tempo atrás. A verdade me consome feito lenha seca no fogo. Nasça e me deixa morrer numa hemorragia incessante. Não tente entender se um dia descobrir que prefere os dias chuvosos e que ouve vozes o tempo todo. Não busque em fotografias semelhanças, evite comparações, não procure explicações e jamais ouça In Utero do Nirvana.




quinta-feira, 20 de agosto de 2015

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Josephines - Josephines (2015).





Desligamento, rompimento e separação.
Era o fim...
Não houve palavras, nem lagrimas e nem brigas. A tristeza transparecia nos moveis, nos cômodos, na janela que dava para o jardim. No pássaro na gaiola, no cachorro que não latiu e na empregada que se trancou no quarto. Nos envolvidos apenas frieza dos olhos, gestos vagarosos e o peso dos pertences que arrastavam-se pelo piso de taco.
Que o passado acomode-se no centro do inferno para sempre, foi o que ele pensou ao deixar o peso dos seus pertences no porta-malas do seu carro. Olhou para trás, acenou para o cachorro que ainda sem latir abanou o rabo, avistou também no lado oposto o jardim de grama verde e margaridas. Ligou o carro com a única certeza, odiaria todas as margaridas de todos os jardins do mundo inteiro pelo resto de sua vida.
Parou o carro quando aproximou-se do portão, saiu apressado em direção a gaiola, resolveu levar o pássaro. Acelerou, ganhou a Avenida principal da cidade com a certeza que seria sua última vez naquela pequena cidade. Abriu o vidro e cuspiu dezenas de vezes, deixou rolar algumas lágrimas pelo rosto, amaldiçoou as lágrimas, o cachorro e a empregada.
Encontrou um bar no meio do nada, desceu do carro levando consigo o pássaro na gaiola. Pediu uma dose de conhaque e desabotoou a camisa, avistou a morte apressada entrar no banheiro, desacreditou piscando os olhos repetidas vezes. Pediu outra dose, tomou rapidamente e mirou seus olhos na porta do banheiro e, novamente ele testemunhou a morte sorrindo em sua direção, o pássaro ficou impaciente na gaiola, debatendo contra as grades até morrer.
Saiu apressado do bar não percebendo a grande lua cheia que centralizava a noite com milhares de estrelas coadjuvantes. Apertou o play no álbum que tinha baixado na noite anterior “Josephines – Josephines”, indicação de um amigo.
A primeira música “Burning angels” o fez acelerar ainda mais, as luzes tornaram-se um risco continuo para seus olhos esverdeados:

and I had a fever
and a hangover
but now I know

Why we fall
why we fall
why we fall apart.

A imagem do pássaro debatendo na gaiola ainda perturbava-o. Desatento esqueceu de parar no sinal vermelho, por um triz escapou de um acidente. Nem sorriu da sorte, nem proliferou um palavrão de sua boca. Alias, nem piscou com seus olhos esverdeados, observou pelo retrovisor do seu carro a morte com o seu cajado próximo ao semáforo.
Parou no acostamento e ligou o pisca alerta para ouvir a musica “Sava me”. Apertou o botão da porta e o vidro desceu deixando o vento entrar, só então percebeu a lua cheia rodeadas de estrelas. Acendeu o cigarro tragando apenas uma unica vez, avistou no topo do poste uma coruja enorme branca rara, seus olhos brilhavam em sua direção o que causou um arrepio involuntário, segundos depois ela voou assustada, foi só então que ele percebeu que a morte havia chegado e encostado no poste.

Hey, baby, turn around
let's burn this fucking house
sweet children, you look so young
I hope you have fun (in my bedroom)

Shine shine, in the dark
a pale body to blend with mine
Your legs will be my shroud
I never will be found...

Teve uma ideia incendiaria quando decidiu voltar para a casa, apagou o farol, chegou na terceira marcha e manteve a velocidade baixa, num foco determinado que oitenta quilômetros por hora desconcentraria-o. Queimaria a casa, a ex-mulher, a empregada e o cachorro. Diminuiu o volume do som e concentrou na letra da música “A way of healing” que dizia:

Everybody is trying be cool
Just like you / like you
They cut their hair and buy new clothes
but theyíre fools / like you

I don't want to look around
pretending smoothy / I'm not cool

I'm not lost but I wanna be found
To sing a new song / Of truth

And I'm drifting in the wind / oh yeah
While this song playing I won't die

A way of healing / healing
I have been searching for a long time (searching for a long time)
A way of healing / healing
I think I found it sometimes

Just like a way
My way
Away
A way
of healing


Ao retornar, ainda que distante percebeu a casa que abandonará algumas horas atrás em chamas, pisou fundo no acelerador, sem pisar no freio derrubou o portão, a empregada chorando e gritando aproximou-se:
_Ela morreu, ela morreu doutor.

Desorientado ele olhou para o jardim de gramas verdes, as margaridas ainda estavam lá, do lado oposto o cachorro que ainda abanava o rabo e não latia também estava lá, a lua cheia também estava. Voltou para o carro e se trancou, ouvindo a música “Mad of stars” que ele percebeu a imagem da morte nas chamas do fogo.


Sometimes we walk alone
Sometimes we fall apart
Sometimes we break the chains that bind us

It's time to let the wind blow
It's time to say goodbye
It's time to learn to live and let die

and we need to face our everlasting
Cause we are made of stars


Hey kids, have some fun
We are on the run
Let's put the house on fire this night

Nobody can stop us now
We are who we are
and no one will save us all

So we need to face our everlasting
Cause we are made of stars

We are all made of stars







quinta-feira, 30 de julho de 2015

Maquiladora - The Fine Line Between Fun And Danger (Ouça na íntegra)


sábado, 25 de julho de 2015

Richard Ashcroft - Human Conditions



Nessa minha alegria disfarçada, nesse meu olhar perdido testemunhando o pôr do sol, nessa batida descompassada do meu coração, nessas minhas palavras sem nexo e com a saudade corroendo-me por dentro. Aqui estou, personagem coadjuvante do “Human Conditions” álbum do Richard Ashcroft. Eu não estou sozinho, acompanhado com pessoas vazias e limitadas, com bebidas baratas, porções com cebola e o sol que está morrendo atrás das montanhas. O frio chega com o escurecer, acendo o cigarro retornando o velho vício, querendo não existir mas, eu existo. Deixo cair o copo das minhas mãos e todos se assustam:

_ Tudo bem com você? Indagam

Respondo que “Sim”.

Aqui, ninguém percebe que estou melancólico, enchem o meu o copo com mais bebida. Aqui, ninguém percebe que o sol já foi embora, ninguém percebe que agora está frio, são pessoas que perderam a vida há muito tempo atrás. Teias de aranhas, pernilongos e parede sem reboco. Aqui, nada me faz lembrar as noites de uísque e Red bull, das cervejas artesanais, dos sonhos, dos filhos planejados, do Radiohead, The Smiths, The Prodigy, dos filmes do Clint Eastwood, do lança, dos carros importados, da alegria de ser e de ter que desfrutávamos.



Volto para casa, minha nova casa é um abrigo comunitário lotado de pessoas perdedoras, pessoas que tem alucinações, que dormem com facas debaixo do travesseiro, sonâmbulos zumbis que tremem a noite inteira não do frio, pessoas que cospem sangue em suas crises de tosses, pessoas que cortam o pulso com canivetes.

E, foi numa dessas noites calma que não acalma que alguém lá do fundo do quarto começou a cantar, cantava delirantemente uma interpretação desafinada no entanto recheada de dor de “Lord, I’ve Been Trying” do Richard Ashcroft. Aproximei e, ele percebendo minha aproximação tirou uma faca debaixo do travesseiro, continuou cantando como sentimentalidade a flor da pele porém, com o olhar assustado e dilatado:



Days that I've been spending
And all these blues - they're never ending
And it gets hard, and life will go on again
Gonna shake off these blues, I'm leaving them now

Recuei-me,só queria dizer como este álbum do Richard Ashcroft, o segundo da carreira solo “Human Conditions” me fez preferir sua carreira solo em vez do The Verve.

E todas essas tristezas – Elas nunca acabam.

Na noite seguinte eu estava preparado para falar com ele mas, encontrei sua cama vazia, o cara da cama ao lado que estava muito cheirado ou sei lá o quê, comunicou que ele tinha sido encontrado numa viela sem vida, oito ou nove tiros espalhados pelo corpo. Chorei, chorei descontroladamente:

Oh I know that I'm holding on but I've got time to grow
Alright, alright, alright

Voltei para aquele mesmo lugar onde as paredes estão sem reboco, pernilongos e teias de aranhas. Naquele lugar que ninguém assistiu filmes de Clint Eastwood ou ouviu Radiohead. Voltei onde as pessoas não são e nem possuem. Pessoas vazias e limitadas que comem porções com cebola. Pessoas que não conseguem ver o sol morrer atrás das montanhas, pessoas que não sentem frio.

_ Tudo bem com você?

Respondo que “sim”.


Enchem o meu copo com bebida, eu acendo o cigarro, saboreio porções com cebolas. Eu existo, querendo não existir.


I know when I'm losing control
I play I am the cosmos
And let the feelings roll...
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