sábado, 31 de outubro de 2015

Ougth – Sun Coming Down


Ougth – Sun Coming Down

O que faz uma pessoa voltar ao vício? O que faz uma pessoa perder controle novamente?

Eu ouvi dezenas de histórias de ex viciados que voltaram ao vicio com um apetite ainda maior. Teve uma história que o cara tinha parado com pó até encontrar sua esposa, sua maior incentivadora de parar com o vício, trepando com o seu melhor amigo no seu quarto.
Está eu ouvi dentro de um ônibus. Duas mulheres conversavam no banco na minha frente:
_ Hum. Ele voltou a usar droga de novo. Descobriu que sua filha caçula é uma prostituta. Coitado, só ele não sabia que sua filha é maior vadia da cidade.

Por assédio moral na empresa um rapaz voltou ao vício e, matou seu chefe... Teve outro caso que cara voltou ao vício por achar a vida sem droga careta demais.

Eu voltei ao vício... e senti o maior transgressor pelo simples fato de andar pelas ruas com uma lata de cerveja na mão, fone no ouvido no volume máximo. O segundo álbum da banda “Ought – Sun Coming Down”é fodástico.


Não sei ao certo o dia que decidi parar com tudo mas, com certeza foi ouvindo o álbum broxante do Muse – The 2nd Law que, decidi parar com as drogas e, desde então eu consegui me manter limpo.

Durante este período eu ouvi alguns álbuns bem interessantes mas, nada que pudesse me fazer levantar do sofá e ir correndo no bar mais próximo, encher a cara, embebedar até cair e dormir na calçada.

Olha, motivos não faltaram para voltar, e, nessa mesma ordem que eu escrevo:
 Perdi o emprego, a esposa e os amigos. Depois perdi o carro, a fé e a autoestima. Para sobreviver vendi a coleção de vinil dos The Beatles, do Nirvana e da Janis.

Arranjei um novo emprego de vigia noturno e uma nova religião, enturmei com pessoas do bem e aos Domingos na Praça do centro da cidade eu pregava palavras de Deus. Minha nova namorada tem a metade da minha idade, seus olhos são verdes e seus cabelos compridos. No entanto numa quinta-feira chuvosa de folga fui conduzindo no piloto automático a tentação de abrir o Blog Floga-se, o meu preferido nos tempos de perdição e lá, Fernando Augusto Lopes um aliciador musical do mal disse sobre o álbum Sun Coming Down: um pós-punk classudo, ora lembrando The Fall, ora lembrando Davi Bowie.
Sim. Voltei para o vício:  Perdi o emprego de vigia noturno, a religião e a namorada de olhos verdes.




Ougth – Sun Coming Down é bom do começo ao fim, é viciante! Eu sei também que se um dia eu sentir arrependido de novo dessa vida de vícios, sempre haverá alguma coisa do Muse para ouvir.

sábado, 10 de outubro de 2015

Radiohead - Ok Computer


Radiohead - OK COMPUTER


_Papai estou  cansado e com dor nas pernas, eu quero colo.
_ Larga disso menino. Você não queria tanto conhecer a praia, agora vai querer colo? Vai brincar com seus irmãos.
_Agora é sério, estou com dor nas pernas...

Então comecei a chorar.

Isso já faz dezoito anos, meu primeiro dia na praia também foi o meu último. Nunca mais voltei para a praia, nunca mais testemunhei a onda do mar e nunca mais voltei a andar. Naquele fatídico dia eu tinha apenas sete anos. Lembro-me que na véspera eu não consegui dormi sonhando com o mar. A alegria instaurada no rosto de Mamãe, do meu pai e dos meus irmãos são indescritíveis e inesquecíveis... Alegria que eu jamais testemunharia novamente nos rostos dessas mesmas pessoas. Eu, o filho caçula e o mais parecido com o Papai, o que valia muitos comentários:

_ “Cara de um focinho do outro”.

_ “Lá vai o xodozinho passear com o Papai”.

 E eu ia mesmo passear ou ouvir seus discos favoritos.



_Está banda é o Radiohead... Guarde este nome Juninho, você um dia ouvirá muito sobre eles e, sabe que quando você ouvir o Radiohead daqui sei lá, dez, quinze, vinte anos, você lembrará do Papai.
Hoje faz exatamente dezoito anos do dia que fomos para praia e eu, estou ouvindo Radiohead e as lembranças me deprime absurdamente.

Papai e mamãe no banco da frente. Papai dirigindo e eu, envolta dos meus irmãos no banco de trás. Papai querendo provar minha esperteza ligou o rádio do carro:
_Ouça amor? Juninho quem está cantando?
Respondi com toda convicção.
_Radiohead.
_Qual o álbum?
_Ok Computer.
_Qual é a Música?
_Airbag... Aumenta ai papai.
Então papai sorriu na direção de mamãe todo satisfeito.


 Recordo-me como se fosse hoje a velocidade que eu sai do carro em direção ao mar, do choque com a onda, do gosto da água salgada, da alegria de meus irmãos, dos guarda-sóis coloridos, do vendedor de camarões, do sorveteiro e do beliscão que Papai recebeu de Mamãe após olhar uma morena de biquíni. Sempre que essas lembranças vêm, traz consigo aleatoriamente músicas do álbum do OK Computer.



No finalzinho da tarde nuvens escuras se formaram no céu e, justamente quando uma enorme cobriu o sol uma fisgada forte em minha perna direita me fez ficar manquitolando, com muito esforço consegui me aproximar do meu Papai:

_Papai estou cansado e com dor nas pernas, quero colo.
_ Larga disso menino. Você não queria tanto conhecer a praia, agora vai querer colo? Vai brincar com seus irmãos.
_Agora é sério, estou com dor nas pernas...

Então comecei a chorar.

Aqueles passos doloridos para aproximar do meu Papai, também foram meus últimos passos. Quando ele me pegou no colo foi também a última que me viu de pé sem ajuda de muletas. O mais próximo que os médicos chegaram é uma doença chamada Síndrome de Guillain-Barré.
Fisioterapia com trilha sonora de Ok Computer, infiltrações, injeções, massagens, dor muita dor e trilha de Ok computer. Cama, muletas, cadeiras de rodas com Ok Computer.



E foi também ouvindo Ok Computer que eu testemunhei a decadência do meu querido Papai que, tantas vezes não conseguiu segurar suas as lagrimas, chorando compulsivamente abraçando-me  e, algumas vezes blasfemando  Deus, discutindo com minha mãe e batendo a porta do quarto com tanta força que o barulho ficava ecoando em minha cabeça a noite inteira e, até hoje continua ecoando.
Papai perdeu o controle da bebida, sua barba cresceu e a esperança da minha cura ele perdeu. Começou a se culpar por minha doença:
_Se a gente não tivesse ido para a praia naquele maldito dia nada disso teria acontecido.


Uma noite Papai entrou no quarto e quebrou o cd Ok Computer, o aparelho do som e as imagens sacras de minha mãe. Meu irmão que tentou segura-lo, levou um soco na boca, meu querido Papai estava irreconhecível, incontrolável, barbudo, bêbado e desempregado.



No dia seguinte minha Mamãe comprou outro aparelho de som e outro cd Ok Computer do Radiohead. O meu Papai sumiu de casa e, somente quase um ano depois chegou a triste notícia do seu falecimento. Morreu sozinho numa cidade vizinha, em baixo de uma ponte com tiro na cabeça. Diz a polícia que foi suicídio.



Hoje eu ganhei uma cadeira de roda motorizada da Prefeitura da minha cidade e as lembranças do meu Papai vieram acompanhada de uma chuva torrencial, entre as nuvens escuras eu vi o desenho do rosto do meu Papai sorrindo porém, um relâmpago quase me cegou e um trovão fez tudo tremer... Voltei pra sala e liguei o som.





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