quinta-feira, 30 de julho de 2015

Maquiladora - The Fine Line Between Fun And Danger (Ouça na íntegra)


sábado, 25 de julho de 2015

Richard Ashcroft - Human Conditions



Nessa minha alegria disfarçada, nesse meu olhar perdido testemunhando o pôr do sol, nessa batida descompassada do meu coração, nessas minhas palavras sem nexo e com a saudade corroendo-me por dentro. Aqui estou, personagem coadjuvante do “Human Conditions” álbum do Richard Ashcroft. Eu não estou sozinho, acompanhado com pessoas vazias e limitadas, com bebidas baratas, porções com cebola e o sol que está morrendo atrás das montanhas. O frio chega com o escurecer, acendo o cigarro retornando o velho vício, querendo não existir mas, eu existo. Deixo cair o copo das minhas mãos e todos se assustam:

_ Tudo bem com você? Indagam

Respondo que “Sim”.

Aqui, ninguém percebe que estou melancólico, enchem o meu o copo com mais bebida. Aqui, ninguém percebe que o sol já foi embora, ninguém percebe que agora está frio, são pessoas que perderam a vida há muito tempo atrás. Teias de aranhas, pernilongos e parede sem reboco. Aqui, nada me faz lembrar as noites de uísque e Red bull, das cervejas artesanais, dos sonhos, dos filhos planejados, do Radiohead, The Smiths, The Prodigy, dos filmes do Clint Eastwood, do lança, dos carros importados, da alegria de ser e de ter que desfrutávamos.



Volto para casa, minha nova casa é um abrigo comunitário lotado de pessoas perdedoras, pessoas que tem alucinações, que dormem com facas debaixo do travesseiro, sonâmbulos zumbis que tremem a noite inteira não do frio, pessoas que cospem sangue em suas crises de tosses, pessoas que cortam o pulso com canivetes.

E, foi numa dessas noites calma que não acalma que alguém lá do fundo do quarto começou a cantar, cantava delirantemente uma interpretação desafinada no entanto recheada de dor de “Lord, I’ve Been Trying” do Richard Ashcroft. Aproximei e, ele percebendo minha aproximação tirou uma faca debaixo do travesseiro, continuou cantando como sentimentalidade a flor da pele porém, com o olhar assustado e dilatado:



Days that I've been spending
And all these blues - they're never ending
And it gets hard, and life will go on again
Gonna shake off these blues, I'm leaving them now

Recuei-me,só queria dizer como este álbum do Richard Ashcroft, o segundo da carreira solo “Human Conditions” me fez preferir sua carreira solo em vez do The Verve.

E todas essas tristezas – Elas nunca acabam.

Na noite seguinte eu estava preparado para falar com ele mas, encontrei sua cama vazia, o cara da cama ao lado que estava muito cheirado ou sei lá o quê, comunicou que ele tinha sido encontrado numa viela sem vida, oito ou nove tiros espalhados pelo corpo. Chorei, chorei descontroladamente:

Oh I know that I'm holding on but I've got time to grow
Alright, alright, alright

Voltei para aquele mesmo lugar onde as paredes estão sem reboco, pernilongos e teias de aranhas. Naquele lugar que ninguém assistiu filmes de Clint Eastwood ou ouviu Radiohead. Voltei onde as pessoas não são e nem possuem. Pessoas vazias e limitadas que comem porções com cebola. Pessoas que não conseguem ver o sol morrer atrás das montanhas, pessoas que não sentem frio.

_ Tudo bem com você?

Respondo que “sim”.


Enchem o meu copo com bebida, eu acendo o cigarro, saboreio porções com cebolas. Eu existo, querendo não existir.


I know when I'm losing control
I play I am the cosmos
And let the feelings roll...

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Echo & The Bunnymen - Flowers




Play no modo aleatório:  Echo & The Bunnymen – Flowers. Na taça vinho barato e suave.
Esperei ela ligar a noite inteira, ela não ligou. Dormi na sala, no sofá  fui bombardeando por pernilongos. Ela sabe, eu nunca tive tão sem grana como estou agora, fazendo empréstimos para pagar empréstimos. O agiota que mora aqui no bairro jurou-me de morte, o rapazinho da esquina de dezesseis anos também quer receber a droga da semana passada, ele pressiona -me o tempo inteiro, ele tem uma faca no cós da sua calça, ele tem maldade em seus olhos.

Outro pernilongo que se foi, desta vez com tapa certeiro com minha mão esquerda, tento achar uma posição melhor no sofá na esperança que ela ainda possa chegar, mesmo tendo um revolver do agiota apontada em sua cabeça ou uma faca pressionada no seu pescoço, que ela entre pela porta da sala que ainda está  destrancada e diga:
_Desculpe o atraso – e por alguns segundos esqueça do revolver ou da faca e abra um sorriso: _ Echo & The Bunnymen!!!



Outro pernilongo que se foi sem menos dizer adeus, pernilongos detestam dizer adeus. Levanto-me ainda desorientado e vou para cozinha, sirvo de outra taça de vinho barato e suave, guardo a salada que fiz na geladeira, o arroz que deixei queimar um pouquinho jogo no lixo, o peixe que está com uma aparência tão boa de uma receita que copiei da internet, saboreio sem talheres. O relógio marca duas horas da madrugada, e ela ainda não chegou.

 Volto para a sala, eu tenho revolver na estante de livros, perto da trilogia de Henry Miller: Sexus, Plexus e Nexus. Sim, eu tenho um revolver e vou matar todos os pernilongos, agiotas e traficantes.


É paranoia mas, ouvi ela me chamar. Corro e abro a janela as ruas estão vazias, apenas uma garoa fina e o vento frio. Vejo uma mariposa brigando com os pingos da chuva e rodopiando feliz e sem noção nenhuma em volta da luz do poste. Felizes são as mariposas que não possuem débitos bancários, débitos com agiotas e nem com traficantes. Talvez, o vinho barato começa fazer efeito, uma desconfiança apossa da minha mente que, a mariposa é ela. Fecho a janela e a música do Echo & The Bunnymen ecoa pela casa inteira.
Pego o revolver derrubando a trilogia do Henry Miller no chão. Abro a janela novamente, estou tão tremulo, miro na direção da mariposa e disparo três balas num total de quatro que estão no tambor. No entanto, a mariposa ainda continua rodopiando a luz do poste no ritmo de It’s Alright.



Tô perdendo a esperança que ela apareça esta noite. Apago e acendo a luz da sala tentando me acalmar, o vinho também acabou e o sono foi embora. Outro pernilongo finda-se no rápido movimento da minha mão direita. Alguns pensamentos começam a perturbar-me, imaginando o que ela possa estar fazendo agora. 

Incrível como este álbum fica mais intenso ouvindo numa madrugada fria e chuvosa. Sim, a mariposa se entregou, agoniza seus últimos momentos com as asas coladas no asfalto, com a percepção aguçada ela antevê que um sapo enorme se aproxima. Ela percebe também a minha presença na janela e, num esforço surreal ela consegue virar em minha direção com as asas molhadas coladas no asfalto emite uma mensagem na voz de Ian:


I know you know we know I'm going down

Help me get my feet back off the ground



Um calafrio vagaroso sobe pelo meu corpo. Não, não existem mais pernilongos estão todos mortos, agora é falta deles que me incomoda, fecho meus olhos e vejo ela na escuridão dos meus olhos fechados, ela tem asas de mariposas e olha para a minha direção assustada, talvez um agiota esteja aproximando e ela não consegue voar mais, não consegue rodopiar a luz do poste como diversão sem noção, ela tenta e, suas tentativas transformam-se em desespero, então ela canta amargamente:


I've been laying down the flowers

I've been waiting in the sun

I've been counting down the hours
One by one
One by one

I've been catching my reflection

I'm still looking at someone

Still perfecting imperfection
Like everyone
Every no one



 É triste mas é lei da vida, à aflição da mariposa é indescritível quando o maldoso  sapo se aproxima. Poderia ser o agiota? Poderia ser o moleque de dezesseis anos? No entanto, é o faminto do sapo devorando a mariposa que mais uma vez utiliza a voz de Ian, para me dizer em seu último suspiro:

Don't want to know when
Don't wanna know why
Don't wanna believe that life is just to die


...
Ela entra e o sol entra junto com ela, aproxima sem asas,  a claridade do sol me incomoda, ela sorri, desviando dos pernilongos que jaz no chão. Salto alto, batom vermelho, traz consigo o vazio das ruas, não percebe ou fingi não ver que, entre a trilogia de Henry Miller está o meu revolver com uma única bala no tambor, miro para o sol e disparo, mas é ela, minha Mona que cai... o sol? Continuará brilhando.

When night turns into morning
And you don't know how long you must wait


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