domingo, 23 de março de 2014

Hierofante Purpura - A Sutil Arte De Esculhambar Musica Alheia

Hierofante Purpura
A Sutil Arte De Esculhambar Musica Alheia

A noite é dos tolos, dos cachorros vira-latas, dos gatos no cio, dos nóias na praça, das corujas no alto do poste, dos camundongos ligeiros no canto das ruas... Tolo... Como se tolo desprovesse de inteligência ou de uma fé necessária. Faço dos cigarros a minha distração predileta círculos de fumaças, que duram segundos e depois desaparecem. Eu não desapareço.
Semana retrasada um amigo me disse que o Beck e o Hierofante Purpura haviam lançados álbuns bons. Que 2014 prometia ser um ano incrivel pra música:
Procurei no meu Galaxy Fame e encontrei o álbum que eu havia baixado na noite anterior:



 Hierofante Purpura – A Sutil Arte De Esculhambar Música Alheia

Fone no ouvido... Tenho a sensação que vida seria melhor a partir do momento que sintonizássemos em alguma música, ajeitasse o fone no ouvido e apertasse o play. Falei disso numa outra ocasião numa mesa de bar e ouvi de um amigo:
_Cê tá louco cara, o mundo seria um desastre. Imagina um motorista de ônibus descendo a Serra de Campos do Jordão ouvindo Pink Floyd – The Piper At The Gates Of Down. O volume no talo, a música The Gnome e a frase martelando em sua cabeça: Look At The Sky, Look At The River e, no ápice de sua viagem surgisse um gnomo. Você acha que o motorista pisaria no freio? Hein?


Decidi deixar o cabelo crescer desde que ouvi o Lonerism do Tame Impala.  Carrego comigo ideias bisonhas porém, ao ouvir pela primeira vez Lonerism tive a certeza absoluta que este álbum soaria melhor ao meus ouvidos se possuísse uma vasta cabeleira. Não sei ao certo quando essas ideias bisonhas começaram ditar regras na minha vida no entanto, o álbum do Tame Impala subiu no meu conceito quando o meu cabelo alcançou meu ombro.


Hoje meu cabelo oito centímetros maior deixa o fone  imperceptível em meus ouvidos. Aumento o volume no máximo:
Vida e morte de Ira Kaplan – É uma luz divina que abençoa minha franja despenteada com o vento, um riso despretensioso e sem significado algum nasce e morre no canto direito dos meus lábios, na infrequência sonora da morte de Kaplan.

Tears Are In Your Eyes - Sigo, tentando equilibrar no meio fio. A noite fica mais densa, sombria, tristonha... Sei, já me avisaram com antecedência que “Tears Are In Your Eyes” é cover do Yo La Tengo. Na verdade o álbum é recheado de covers. E, eu poderia continuar a música equilibrando no meio fio porém, um cachorro vira-lata surgiu da escuridão, o som alto no meu fone não deixou ouvir cachorro latir e sim, fiquei com impressão que o cachorro que cantava “Tears Are In Your Eyes”.

De repente as luzes da rua se apagaram e lua tornou-se visível para meus olhos, rodeadas por milhares de estrelas amarelas e reluzentes. Sentei debaixo de uma falsa seringueira e acendi o ultimo cigarro, outros círculos de fumaças, o sono veio mas, consegui me levantar antes que meus olhos fechassem. Aliás esqueci de mencionar que cachorro que latia sua bravura, raiva, hostilidade em minha direção agora me acompanhava abanando seu rabo de um contentamento cordial.

Granada – Lagrimas descontinuadas fazem percursos diferentes pela minha face durante os quase dez minutos de música. Amontoados de palavras nostálgicas, numa descompassada melodia suja, sussurros mixados que ecoam numa promessa de luxúria barata. Outra lagrima, outro caminho, outro sussurro...
Um Nóia vindo não sei de onde intercepta o meu caminho gesticula e grita com um revolver 38 em minha direção. O som alto do meu fone impediu o entendimento, o cachorro avançou feroz, mostrando dezenas de dentes mau cuidados e transmissores de dezenas doenças. No entanto antes de morder o nóia um tiro certeiro vitimou deixando sem movimento, sem o abano do rabo e sem vida.
Tentei tirar o fone do ouvido no impulso e, de repente um dor do lado direito do meu peito como se fosse uma aplicação de uma injeção de benzetacil, foi isso o que pensei na hora. Cai do lado do cachorro sem conseguir me levantar. No entanto o som estava alto em meu ouvido e, uma voz que ia se apagando, sumindo aos poucos. Lembro-me vagamente de palavras desconexas: trigo, bago de trigo, pão, bagaço da cana e doçura do mel.

Desmaiei.

Acordei com luzes piscando, pessoas talvez três ou quatro ao meu redor. Eles falavam comigo com olhos preocupados, davam tapinhas em meu rosto, conversavam entre eles e, certamente o meu cabelo comprido camuflava o fone dos meus ouvidos, me colocaram em cima de uma maca. Depois dentro de um carro provavelmente em uma ambulância. Esqueceram do cachorro ou nem se importaram com ele.
Dei entrada certamente no pronto socorro, um médico novo e assustado pra “carai” olhou pra mim e começou a falar:

Baga
Bauret
Guimba
Pontolha
Da banana eu fumo folha.

Começo a rir, rir sem parar. O médico ficou tão animado com minha melhora repentina sem perceber o fone em meu ouvido. Ele olhou pra enfermeira e disse:

Curto
Comprido
Perna de Grilo
Erva Santa Sem amônia.

A enfermeira olha pra mim, olha pro medico incrédula e, o médico repete:

Baga
Bauret
Guimba
Pontolha
Da banana eu fumo folha.

Tudo estava tão divertido até que a enfermeira percebeu o fone no meu ouvido e ao retira-lo a magia foi-se embora.
 Apaguei.



Hoje, duas semanas depois... Eu estou em casa, com uma bala alojada no lado direito do meu peito ouvindo a última música: Éter No Amigo.


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