Nessa minha alegria disfarçada, nesse meu olhar perdido testemunhando
o pôr do sol, nessa batida descompassada do meu coração, nessas minhas palavras
sem nexo e com a saudade corroendo-me por dentro. Aqui estou, personagem
coadjuvante do “Human Conditions” álbum do Richard Ashcroft. Eu não estou
sozinho, acompanhado com pessoas vazias e limitadas, com bebidas baratas, porções com cebola e o sol que está morrendo atrás das montanhas. O frio chega com
o escurecer, acendo o cigarro retornando o velho vício, querendo não existir
mas, eu existo. Deixo cair o copo das minhas mãos e todos se assustam:
_ Tudo bem com você? Indagam
Respondo que “Sim”.
Aqui, ninguém percebe que estou melancólico, enchem o meu o
copo com mais bebida. Aqui, ninguém percebe que o sol já foi embora, ninguém
percebe que agora está frio, são pessoas que perderam a vida há muito tempo
atrás. Teias de aranhas, pernilongos e parede sem reboco. Aqui, nada me faz
lembrar as noites de uísque e Red bull, das cervejas artesanais, dos sonhos,
dos filhos planejados, do Radiohead, The Smiths, The Prodigy, dos filmes do
Clint Eastwood, do lança, dos carros importados, da alegria de ser e de ter que
desfrutávamos.
Volto para casa, minha nova casa é um abrigo comunitário
lotado de pessoas perdedoras, pessoas que tem alucinações, que
dormem com facas debaixo do travesseiro, sonâmbulos zumbis que tremem a noite
inteira não do frio, pessoas que cospem sangue em suas crises de tosses,
pessoas que cortam o pulso com canivetes.
E, foi numa dessas noites calma que não acalma que alguém lá do fundo do quarto começou a cantar, cantava delirantemente uma interpretação desafinada
no entanto recheada de dor de “Lord, I’ve Been Trying” do Richard Ashcroft.
Aproximei e, ele percebendo minha aproximação tirou uma faca debaixo do
travesseiro, continuou cantando como sentimentalidade a flor da pele porém, com o olhar assustado e dilatado:
Days that I've been spending
And all these blues - they're never ending
And it gets hard, and life will go on again
Gonna shake off these blues, I'm leaving them now
Recuei-me,só queria dizer como este álbum do Richard Ashcroft, o segundo da carreira solo
“Human Conditions” me fez preferir sua carreira solo em vez do The Verve.
E todas essas
tristezas – Elas nunca acabam.
Na noite seguinte eu estava preparado para falar com ele mas, encontrei sua cama vazia, o cara da
cama ao lado que estava muito cheirado ou sei lá o quê, comunicou que ele
tinha sido encontrado numa viela sem vida, oito ou nove tiros espalhados pelo
corpo. Chorei, chorei descontroladamente:
Oh I know that I'm holding on but I've got time
to grow
Alright, alright, alright
Voltei para aquele
mesmo lugar onde as paredes estão sem reboco, pernilongos e teias de aranhas.
Naquele lugar que ninguém assistiu filmes de Clint Eastwood ou ouviu Radiohead.
Voltei onde as pessoas não são e nem possuem. Pessoas vazias e limitadas que
comem porções com cebola. Pessoas que não conseguem ver o sol morrer atrás das
montanhas, pessoas que não sentem frio.
_ Tudo bem com
você?
Respondo que “sim”.
Enchem o meu copo
com bebida, eu acendo o cigarro, saboreio porções com cebolas. Eu existo, querendo
não existir.
I know when I'm losing control
I play I am the cosmos
And let the feelings roll...
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