Olha o Professor de filosofia com sua barba enorme, a noite
passada ele quase morreu eletrocutado no chuveiro, suas ideias esquerdistas e
um olhar profundo de uma esperança marxista. Antes meia dúzia de pessoas
cultuava suas ideias porém, o movimento cresceu e, tem gente grande querendo
sua cabeça. Espiões disfarçado em guardadores de carros, vendedores ambulantes,
mendigos iletrados, viciados em craques, banguelas e um homem que filma o
movimento atrás do poste.
Ele está sendo bem vigiado mas, é cercado por grandes
intelectuais, é blindado por bandidos de alta periculosidade, por seguidores
fiéis de suas doutrinas. Há pessoas infiltradas na política e na polícia ao seu
favor que, em noites impares trazem informações valiosas antecipando os passos
de uma possível emboscada. Ele é ligeiro e articulador, pichador profissional
dos monumentos da cidade, o que ainda lhe causa uma adrenalina infanto juvenil.
No entanto, quando fica só em sua grande casa de aluguel, faz poesia sobre
lua, sobre a chuva e sobre o pôr do sol. Lágrimas irrompem dos seus olhos
quando saudade da sua ex invadem seus pensamentos... Ali no quarto com a cama
ainda com dois travesseiros, com bichos de pelúcias, seus ideais marxistas, esquerdistas
e o caralho aquático não fazem diferença nenhuma... E se algum espião banguela
pudesse lhe ver assim diria ao seus superiores:
“_É um frouxo sentimentalista.”
Ligou o aparelho de som e, escolheu ainda com o controle na
mão um arquivo musical do Projeto promissor denominado MALL STAR.
Foi para cozinha, abriu a geladeira apossou
de uma cerveja, o celular vibrou em seu bolso, verificou, era uma chamada de um
policial ao seu favor. Enxugou as lágrimas, abaixou o volume do som, tentou
recompor a voz:
_Alô?
_Tudo Limpo – Respondeu a voz do policial do outro lado da
linha.
Aumentou novamente o volume do aparelho de som.
Voltou para o quarto pegou o travesseiro que minutos antes
estava abraçado, jogou álcool e acendeu a chama do isqueiro, rapidamente o fogo
se alastrou. “Tudo limpo” a voz do policial ficou ressoando em sua cabeça.
Passou e repassou a mão em sua enorme barba. Logo mais, antes do sol nascer,
queimaria pneus na avenida principal nos dois sentidos. .
Compareceu na avenida como havia combinado com seus discípulos,
cumprimentados e abraçados por todos ali, em compensação sua cabeça estava em
prêmio, se um daqueles discípulos fraquejasse como Judas
fraquejou era o fim. Adentrou em seu carro popular e, só acelerou quando testemunhou
as chamas altas dos pneus, lembrou-se das chamas do travesseiro algumas horas
atrás, “o fogo era algo libertador”.
Professor de filosofia adorado pelos alunos e odiados pelos
professores, mal sabia ele que até na escola era vigiado pela dona da cantina
que, o seguia no seu Instagram, Facebook e Twitter, com seu olhar verde
esmeralda, aliás, seu olhar que pouco destacava em seu rosto rechonchudo, uma
enorme verruga sim, ganhava um grande destaque nascia e morria na ponta do seu nariz. Tratava o professor de
filosofia sempre com uma falsa simpatia, ria mais do que devia. Suas perguntas
coletoras de informações quase nunca funcionavam, apesar da insistência. Seu
vocabulário era pobre e pouco atrativo, suas informações via whatsapp não
impressionava até os seus superiores. No entanto, o professor de filosofia já
havia sido informado por um aluno (discípulo) sobre as intenções dela e pra
quem ela trabalhava.
Quando caminhava pelas ruas da cidade estava sempre
precavido, qualquer arrulhar de pombo fazia ele passar apressadamente a mão no
coldre da pistola que ficava no cós da sua calça.
Porém naquele dia, já no
aconchego do seu lar ao anoitecer, o professor assistiu os noticiários dos
telejornais que, comentavam sobre o fracasso das rodovias interrompidas com os
pneus queimados, que o bombeiro e a polícia militar havia agido rapidamente
controlado a situação, e, muitos dos manifestantes foram presos.
Apertou o Play no Projeto musical Mall Star, sentou-se na sua
cadeira de balanço na grande varanda, viu milhares de estrelas e a grande lua
cheia, sentiu o perfume das flores do jardim, testemunhou morcegos velozes
sobrevoando em volta das luminárias, avistou o seu cachorro abanando o rabo sem
aproximar talvez, percebendo sua seriedade... Assim sozinho a solidão conseguia
alcança-lo, desprovidos de bandeiras, de planos mirabolantes, de frases de
efeitos e do todo entusiasmo costumeiro. Ele olhava as margaridas do jardim com
tamanha sentimentalidade que parecia outra pessoa e, mesmo assim o cachorro não
aproximava, o cachorro tem percepção aguçada, ele sabe quando o seu dono não
está bem.
Sim, sentia-se triste com o noticiário dizendo que a paralisação foram feitas por vagabundos e, tinha sido um fiasco. Ficou trancafiado o final
de semana dentro de sua casa, e, só ficou sabendo da morte violenta da Dona da
cantina na segunda de manhã. Procurou pelo o aluno informante e ficou sabendo
que ele havia pedindo transferência na sexta feira a tarde.
Os dias de semanas sequentes voaram até chegar o sábado, quando
o grupo reunia-se, no caminho o professor não tirava da cabeça o fiasco dos
protestos, procurava respostas para conseguir reerguer a chama do grupo. No
entanto, ainda que distante ele avistou um aglomerado de pessoas nunca visto
antes em uma reunião, mesmo com toda mídia dando ênfase ao fracasso do protesto,
o número de pessoas na reunião havia duplicado então começou a cantarolar War.
Madilha que não percebeu que havia mais de um homem filmando seus movimentos
atrás do poste.
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