Há
loucura nessa casa, há loucura nos olhares de soslaios dos vizinhos, há loucura
nos pedintes que tocam a campainha incessantemente e que, ninguém atende, há loucura
nos pombos que amanhecem mortos pelo quintal.
Há
loucura nos quatro cantos dessa casa, há loucura no voo das psicodélicas
borboletas, há loucura exagerada das formigas vermelhas que carregam consigo um
enorme gafanhoto já sem vida, há loucura na fuga desesperada de uma barata pelo
quintal, há loucura no cachorro ao si coçar das sanguinárias pulgas, há loucura
nas flores murchas sedentas por água no jardim, há loucura no sol que
ilumina...
Ela
se penteia, ela não vai embora, ela se borra no batom rosa em frente ao
espelho. Ela pensa estar viva ainda... Não, não fui eu que morri...
Há
loucura no filho mais velho visível em suas tatuagens, há loucura nos
alargadores enormes em suas orelhas, há loucura no Pai imóvel diante da televisão desligada, há loucura no
cachorro que late a noite inteira, há loucura no som alto do carro com pneus
furados.
Ela
se penteia, ela não vai embora...
Há
loucura quando chega noite, há loucura nas estrelas que se apagam, há loucura
nas estrelas que permanecem acesas. Há loucura na quantidade de cerveja
consumida, há loucura nos pratos que chocam violentamente nas paredes, há
loucura na ferida que outra vez volta a sangrar, há loucura nos dias que passam
e que não volta jamais, há loucura no som alto no carro de pneus furados.
Há
loucura no medo de esquecer seus traços, há loucura no medo de esquecer o seu
sorriso, há loucura de esquecer todos os momentos...
Ela
se borra com o batom rosa em frente do espelho...
Paaaaiiiiiiiiiiiiiiiii...
Há loucura no grito do filho mais novo, há loucura na corrida desajeitada do
Pai até o quarto.
_
O que houve filhinho o Papai tá aqui...
_A
mamãe Papai...
_A
mamãe foi morar com Deus. Papai já falou sobre isso.
_Não
Papai. Ela não foi morar com Deus. Ela tá atrás de você.
“Há loucura no som alto do carro Pneus furados”
Nenhum comentário:
Postar um comentário