Manic street
Preachers – Rewind The Film
Arruma
o seu cabelo e passa suavemente o seu batom vermelho em seus lábios finos, seu
sapato de salto alto está atrás da porta, o perfume que incendeia o quarto
inteiro está logo ali na penteadeira e os meus sentimentos desimportantes estão
todos aqui comigo. Ela ri o tempo todo diante do espelho, me chama pra ajudar
fechar o zíper do seu vestido estampado florido, está preocupada com a chuva
que não para, simula um beijo na minha direção a distância pra não borrar os
seus lábios.
Antes
de entrar no carro diz palavra de baixo escalão por eu não ter lavado o carro.
Bate porta enfezada depois me xinga por ter quebrado a unha do dedo anelar de sua mão
esquerda. Ela me Pede pra virar a próxima direita e, depois que viro:
_Não
era essa, era próxima direita.
Ligo
o som do carro.
_Que
é isso?
_Isso
o que?
_Que
está tocando?
_É novo Album do Manic Street Preachers (Rewind The Film)... Baixei hoje à tarde.
_Não
gostei. Na verdade nunca gostei Manic.
Depois de alguns segundos.
_Minto, gostei sim de uma música que tinha um vídeo de crianças sem olhos ou bocas... Sei
lá, coisa assim.
_If You Tolarate This Your
Children Will Be Next.
_É...
Deve ser essa mesma.
_Enfim, o Álbum inteiro deve ser chato mas, está música
salva. Não gosto dessas bandas do Reino Unido, e, acelera essa bugiganga.
As
duas primeiras faixas Rewind The Film: This Sullen Welsh Heart e Show Me The Wonder não
era exatamente o que eu esperava ouvir porém, confesso ter gostado.
_
Não tem jeito de você colocar um som do Coldplay ai?
Finjo
não ouvir.
A
sonoridade está muito diferente...
_Olha
lombada.
_Tô
vendo.
_Ah
tá vendo. Se eu não falo aqui.
No
entanto foi na introdução da música (I Miss The) Tokio Skyline que eu imaginei nunca ter casado,
nunca ter filho. Imaginei me sozinho no carro com os para-brisas ligados. Sim,
com alguns cabelos brancos, com barba pra fazer, com algumas rugas no canto dos
olhos, a barriga avantajada como agora, virando para esquerda ou para direita,
buzinando pra “minas” no ponto de ônibus, passando por cima de lombadas e,
entrando pela contramão. Sim, errando marchas sempre, sem perder a direção.
Extasiados
nos pensamentos ou na música, buzinei “para as minas” no ponto de ônibus e
antes de dizer alguma coisa um beliscão raivoso quase tirou parte do meu braço,
com gemido quase inaudível porém com uma dor gigantesca continuei firme no
volante. Juro que quando aproximei da curva sinuosa vizinha de uma ribanceira
“eu pensei merda”, tremulo e com suor escorrendo eu vi a morte convidativa com
capuz de praxe. Mas eu vi também meu filho caçula com um olhar perdido atrás da
morte. Freei fundo que os pneus deixaram marcas no asfalto, não houve uma
reclamação ou beliscão. Não houve uma troca de olhar ou palavra.
Lembro-me
que ao final do Álbum Rewind The Film houve um silencio mortal. Eu extasiado com o
que tinha ouvido, ela talvez pensando em divórcio.
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