terça-feira, 30 de setembro de 2014

The Verve - Forth


The Verve - Forth

Estou conectado há mais de uma hora, apertando teclas aleatoriamente, estou cansado e o sono me persegue outra vez, pensei em dar uma volta, dar uma arejada nas ideias porém, na sala eu desisti assentando no sofá com a companhia dos meus dois gatos. Liguei a televisão apenas para comprovar que nada na televisão me interessa. Vou pra cozinha e preparo um café amargo, eu já acostumei com a minha solidão, fico horas e horas sem falar com ninguém cuidando do meu pequeno jardim, podando a roseira, umedecendo as orquídeas, retirando matos que cresceram junto aos pés das margaridas e o girassol está tão bonito.

Mas, somente quando chega à noite e a insônia rotineira se apresenta e possessa do meu quarto eu apago a luz e no escuro algumas ideias brilhantes surgem, algumas se apagam como as estrelas e outras permanecem até chegada do sol. Vagarosamente me arrumo para o trabalho, coloco o fone nos ouvidos o álbum "Forth” do The Verve.



Adormeço nos primeiros acordes da belíssima “Sit and Wonder”e, quando acordo já estou bem perto da empresa e a música que rola é “Valium Skies”. Retiro o fone do ouvido.



O crachá tem um peso significante quando não fazemos o que gostamos, porém o ônibus já está próximo e o sol já é visto pela metade atrás da montanha. O peso do crachá parece aumentar quando aproximamos da portaria. Há um silencio notório nos funcionários cabisbaixos, o barulho da catraca é um incomodo. A catraca é a divisão do mundo servil com qualquer outro mundo que você viva, entretanto este mundo servil é a engrenagem que movimenta o outro qualquer mundo que você viva.
O amigo que te cumprimenta todos os dias com tampinhas nas costas no vestuário é o mesmo que está querendo tua vaga de operador e o teu salário. Eu percebi isso quando ele sorriu pra mim na segunda-feira de manhã enquanto tomávamos café juntos. O meu crachá tornou-se ainda mais pesado depois do sorriso dele.

Saio da fábrica exausto e apressado apenas para testemunhar o sol pela metade pois, o mesmo já esconde-se atrás da montanha. Geralmente eu durmo no trajeto de volta pra casa, alguém me chama:
_Acorda já chegou. _ Levanto atabalhoado sempre derrubando alguma coisa, o paciente motorista sempre balança a cabeça rindo do meu jeito afobado ao descer os degraus do ônibus. 
Obedientemente aos meus costumes sempre paro num boteco e, com o costumeiro pedido:

_Uma latinha de Skol e uma dose caprichada de Jurubeba.

Se for em dia de pagamento prolongo minhas horas naquele ambiente que sempre tem uma bandinha de pagode ao vivo o que obriga a colocar o fone nos ouvidos e aumentar o volume no máximo “Love Is Noise” é a música mais chapada do álbum. Fico ali num canto numa mesinha com uma única cadeira observando jovens e suas bebidas acompanhadas com energéticos, as vezes alguns deles se aproximam pedindo me o isqueiro para acenderem os seus baseados.

_E ai tiozão valeu!!!


Nesses dias levantar da mesa e chegar até o caixa é um obstáculo cuidadoso, passos curtos e olhos focados, mesmo assim sempre encosto em alguma mesa quebrando copos e garrafas. A palavra que eu ouço repetidas vezes é “bêbado”. Confiro o troco religiosamente contando e recontado dezenas de moedas que o dono do estabelecimento faz questão de empurra-las para mim afim de me sacanear. Na terceira tentativa desisto de contá-las e, enfiou tudo dentro do bolso.

Não sei exatamente que horas são porém, sei exatamente onde meus passos ziguezagueando me levarão. Luzes de neon vermelhas que piscam a palavra Sex. Luzes azuis, verdes e amarelas que piscam outras palavras que não me recordo agora.

Na bilheteria ou entrada uma moça com decote V com os bicos dos seus peitos quase de fora, cobra minha entrada então, eu enfio a mão no bolso e empurro aquelas dezenas de moedas.

_Confere ai, o que estiver faltando eu pago em cédulas.

A moça olha estranho na minha direção enquanto eu olho para o bico do seio direito que escapuliu do seu decote, ficaria ali com olhos solícitos nos próximos dez minutos se ela não intrometesse repetidas vezes:

_Vinte cinco reais e quarenta e cinco centavos.

_Oi???

_Moço... Pela quarta vez, vinte cinco reais e quarenta cinco centavos.
_É que o seu seio direito com bico arroxado está de fora.
_Nossa moço!!! Desculpa que vergonha.

Que vergonha, a vadia nem se lembra que no meu último pagamento era eu que estava mamando em seus peitos.

Sinto me culpado por adentrar nesse pequeno corredor que me leva a um pequeno palco rodeados de homens a maioria deles casados, sedentos e tarados por Strip-tease. Novinhas rebolando nuas pra arrecadarem dinheiro para parcelas da faculdade ou tentando ganhar dinheiro para a próxima carreira de cocaína. Eu com o copo na mão de uísque com gelo pago pelo o “zóio da cara” estou de olho em uma loirinha que parece tímida, uma dessas que tenta pagar a faculdade a qualquer custo para manter seu sonho de ser bióloga, engenheira, advogada sei lá.

Então, como pagante ela veio em minha direção tirou vestidinho enxadrezado e curtíssimo, uma calcinha preta de renda e sem o sutiã, começou a dançar sem pudor nenhum, num abaixa e levanta que muitos chegariam em orgasmo. Eu continuei firme, confesso que sem piscar meus olhos, ela ficou nua e sem controle, contorcendo perto de mim. Bêbado mais consciente que não poderia toca-la que um segurança brutamonte poderia aparecer do nada e me esmurrar os meus dentes da frente até cai-los no chão.

Paguei um preço exuberante para tê-la no quarto comigo, ela ofegante ainda da sua apresentação, com os cabelos desajeitados, um riso falso como a pulseira que adornava seu braço tatuado e musculoso,  um olhar sem brilho ainda que atento e assustado, efeitos do abuso da cocaína que a coriza constante comprovava. Não houve dialogo nos minutos subsequentes, duas almas vazias e perdedoras provando do sexo o pior que ele pode oferecer, o encontro de duas línguas ásperas como lixas grossas misturadas ao aroma de cigarros baratos e doses exageradas de jurubeba. Minhas mãos calejadas em seus seios absurdamente grandes e flácidos, o silencio só era quebrado quando chupada mal dada fazia o estalar dos lábios ou, quando um gemido de dor ou remorso escapava ecoando pelo quarto.
No final das contas terminamos o coito ainda mais vazio que o começo. Ela limpando-se com o chuveirinho e eu, preocupado com a droga do crachá que caiu debaixo da cama...

... Voltei pra casa ouvindo na íntegra um dos álbuns mais angustiantes e belo do mundo.






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