domingo, 5 de abril de 2015

Björk - Vulnicura

Björk - Vulnicura

“Aconteça o que acontecer jamais entre na Floresta das arvores gigantescas, é amaldiçoado. “ Foi o conselho do seu avô, curandeiro daquele povoado da zona rural de Aiuruoca, cidade do Sul de Minas Gerais.
Ele insistiu ainda dizendo que o ponto de ônibus era longe e, se perdesse só teria ônibus noutro dia. Ainda assim ela disse que iria, correria um pouco se preciso fosse; seu avô preocupado entregou-lhe um pequeno revolver em suas mãos. Sei entender tamanha preocupação quis devolver o revolver porém, a insistência do seu avô foi tanta, que Carolina toda tremula segurou um revolver pela primeira vez na vida. Guardou com pressa e receio dentro de sua bolsa.



Não foi apenas o ultimo ônibus que ela perdeu, não se perde apenas o ultimo ônibus quando está em Aiuruoca. Sentou-se no gramado e acendeu um cigarro, ela sabia que teria que regressar, só que com um agravante, já era noite e na zona rural de Aiuruoca e, não havia iluminação nas ruas. 
Assustou-se quando testemunhou um vulto escondendo atrás do tronco de uma Araucária. Lembrou-se das estórias contada pelo seu avô sobre corpo-seco e lobisomem na noite anterior, um arrepio tomou posse do seu corpo. 



Levantou-se, uma lua cheia e alaranjada era sua companhia. Acendeu outro cigarro e começou a caminhar com impressão que um vulto lhe seguia.
Não havia sinal para o celular naquele local, e, arquivado no cartão de memória apenas o novo álbum da Björk – Vulnicura que ela tinha feito download na semana anterior, quando decidira viajar para o Sul de Minas. Apertou o play Stonemilker.



Carolina caminhava devagar pois a pressa narraria o seu medo que não era pouco, sabia que a pressa poderia levar a lugares mais distante, em contrapartida a tentativa de fuga poderia custar alguns minutos a menos de sua vida. Caminhava devagar com sensação que o vulto ainda perseguia-a, o desespero crescia a cada passo. A voz de Björk surgiu alta assustando-a pois, ela nem havia colocado o fone no ouvido. Apertou o pause e a voz continuou, oriunda da floresta das árvores gigantescas. Ela ficou confusa emaranhada na sentimentalidade de Björk, enfiou a mão na bolsa por pura curiosidade e sentiu o tambor frio do revolver. Contrariando o que disse seu avô na despedida adentrou a Floresta das árvores gigantescas ouvindo o sussurro de Björk



Who is open chested
And who has coagulated
Who can share and
Who has shortened the chances

Demorou  alguns segundos para acostumar com escuridão e, quando acostumou notou-se que centenas de corujas brancas observava-a, enfileiradas nos galhos das arvores e, qualquer movimento que fizesse era acompanhado pelos olhos atentos das corujas. Ela caminhou pela braquiária alta até encontrar uma trilha no meio da floresta, milhares de vaga-lumes contornavam aquela trilha numa subida íngreme. A voz da Björk era oriunda lá do alto ecoando na floresta toda, Carolina hipnotizada por aquela sentimentalidade incomum de Björk prosseguiu a passos lentos aquela subida, e nem mesmo um bando de javali apressados fizeram sair da trilha.
Mas, foi no início da música Family que os vaga-lumes começaram a fazer uma coreografia psicodélica emanada pela voz aflita que clamava:



How will I sing us out of this Sorrow?
Build a safe bridge for the child
Out of this danger
Danger!

Por um momento testemunhou as arvores em movimentos frenéticos e irregulares, as corujas revoaram em círculos até serem engolidas pela escuridão da noite, foi então que ela começou a beliscar o próprio braço, desconfiada que tudo aquilo fosse um sonho, ao acordar estaria aconchegada na cama de molas do quarto de hospede da casa do seu avô. Seus braços ficaram roxos e doloridos e, a cama aconchegante do quarto de hospede  certamente estaria toda bagunçada ainda, do jeito que ela deixou algumas horas atrás.

Deparou-se com um lago de águas turvas onde transparecia a grande lua alaranjada,  hipnotizada por um instante pelo contraste que seus olhos testemunhavam na água do lago. Porém uma sombra foi formando-se envolta da lua, e, quanto mais ela forçava seus olhos no lago, um formato aterrorizante iam ganhando movimento, até que ela sentiu em suas costas um hálito quente e forte que, chegou a balançar seus cabelos compridos e castanhos. Sua fuga desesperada durou exatamente seis minutos e dez segundos, foi uma fuga que teve como fundo a música Mouth Mantra:


...
I have followed a path
That took sacrifices
Now I sacrifice this scar
Can you cut it off?

Exausta e apoiada num tronco de uma arvore  retirou o revolver de dentro de sua bolsa, e, quando aquele enorme monstro talvez oriundo das estórias que seu avô contava preparou o bote, ela disparou um tiro certeiro derrubando o monstro que, ficou ali agonizando por horas. Carolina acabou adormecendo encostada naquele tronco. E quando amanheceu o dia  acordou assustada e no lugar que estaria o monstro, encontrava-se o corpo do seu avô com sangue coagulado e repleto de moscas varejeiras. Sem demora e com lagrimas nos olhos ela partiu na direção do ponto de ônibus, ao adentrar disse ao motorista:
_ Rumo a Resende.
Em algum trecho entre Aiuruoca e Resende ela despachou o revolver. Na rodoviária de Resende pegou outro ônibus rumo agora para Pindamonhangaba.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...