terça-feira, 16 de agosto de 2011

SBTRKT - SBTRKT





Fernanda está com outra pessoa.  Eu mesmo constatei isso. Depois de vários telefonemas sem retorno, decidi procurar por ela. O carro com pneus novos alinhados e balanceados deslizavam no asfalto, no radio com o volume máximo SBTRKT - Hold On. Pisei fundo no freio antes de virar para direita, o velho ritual que aprendi com meu irmão mais velho apenas pra batizarem os pneus novos:

Hold On
...
Whatever you've done, However bad, Hold on hold on hold on
Whatever you've done, However bad, Hold on hold on hold on
Whatever it is, However bad, Hold on hold on hold on
Hold on hold on hold on hold on
Why don't... 



Um homem de meia idade e viúvo como eu. não precisa de muitas coisas pra que sorriso mesmo que seja artificial tome posse dos lábios: um carro 2.0, um som que mescle house, UK garage, soul e R&B.  Uísque mesmo que seja barato, mesmo que seja Cowboy e uma mulher de esquema. É importante ressaltar a mulher, a mulher é de extrema importância para um viúvo. Ela terá que fazer sexo, terá que se entregar possuir e ser possuída, mas, em nenhum momento, em momento nenhum da sua excitação mesmo que seja excitação incontrolável ressuscitar sua esposa, às vezes um "Eu te amo" atrapalha a noite.

Nisso Fernanda era ótima em vez do "Eu te amo" ela dizia "Foda-me". Em vez de "Beijos" ela preferia "Tapas" e, depois de tudo Fernanda não dormia; falava do seu dia, do seu trabalho, perguntava também. Queria saber qual filme eu tinha assistido, qual livro eu tinha lido e o melhor: 
_Rober... Qual cd você me recomendaria ouvir depois dessa trepada?

Minhas ultimas recomendações tinham sido:

The Antlers - Burst Apart 
Elbow – Build a Rocket Boys
Wild Beasts - Smother



E quando eu ouvi SBTRKT pela primeira vez eu tinha certeza que eu estava ouvindo uma dos melhores lançamentos de 2011. Eu tinha o dever ou a desculpa de vê-la novamente. Não. Eu não me importo hoje em dia com os três acordes, o som tem que me transportar de alguma forma ou de qualquer jeito. Pensei em Fernanda quando tocava Wildfire:





Conheço as ruas, esquinas e lombadas que me levam a Fernanda. Conheço os atalhos, os bares e as igrejas que antecede sua pequena morada de grade azul e numero 226 quase que, imperceptível pregado na coluna da varanda. Conheço as pessoas, os cachorros e os gatos que transitam no meio da rua, e, eu tenho impressão que as pessoas, os cachorros e os gatos também me conhecem.



Freio bruscamente outra vez. Não, não é um novo ritual e nem um cachorro sarnento que entrou na frente do carro. 
Poderia? Deveria? Gostaria?
Sim
Desligo o motor do carro, porém não abro porta. Pisco repetidas vezes pra ver se minha visão melhora e, cada piscar fica mais nítido que Fernanda está com outro alguém. Acendo um cigarro, depois da primeira tragada jogo o cigarro fora, jogo o maço de cigarros fora. Pisco repetidas vezes novamente Fernanda está feliz e comunicativa. Deve estar falando do seu dia, deve estar comentando os filmes que assistiu e o pior de tudo devem estarem falando dos seus discos preferidos, ou melhor, dos discos que eu indiquei para ela.
Conheço Fernanda e, eu já sei onde essa conversa animada vai acabar... De repente a vontade de fumar volta... Abro a porta carro e recupero o maço de cigarros. Tenho a impressão que Fernanda me viu ao sair do carro.
Depois de testemunhar um longo beijo decido ir embora com a promessa de nunca mais voltar, com a promessa de esquecer as ruas, as esquinas e lombadas... Esquecer as pessoas, cachorros e gatos.
Acabaram os rituais e o que ficou foram dezenas de lágrimas sem alinhamentos, balanceamentos e sem freios.



Fernanda deveria ao menos respeitar o ciclo menstrual, deveria menstruar primeiro para depois ter outro relacionamento, pois, hipoteticamente existem partículas, sentimentos, salivas e vestígios de espermas que me pertencem na parte interna de sua vagina. 



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