sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Hierofante Púrpura – Boas Bestas (EP 2015)



Hierofante Púrpura Boas Bestas (EP 2015)

Eu sei, vamos construir a nossa casa e fazer amizades com pessoas de cores diferentes, com diálogos diferentes, de alturas variadas, de olhares curiosos, abduzidos por vaga-lumes e que ouvem Boas Bestas.

Comunicaremos através gestos e o medo será nossa defesa, fingiremos ser cobra para saborear outras cobras nas refeições com batuque repetitivo de sapos martelos. Dois cafés da manhã e frutas ácidas no final da tarde, mergulharemos na cachoeira de águas gélidas enquanto assassinatos serão cometidos na área arborizada perto do caquizeiro.

Tenho álibi não fui e nem vim mas, estou consternado com tudo isso, galinhas angolas não merecem isso, pescoço quebrado diz à polícia.
Há suspeitos. Pessoas de cores diferentes, de diálogos diferentes, de alturas variadas, de olhares curiosos, abduzidos por vaga-lumes e que ouvem Boas Bestas.

Tenho olhos azuis e uma religião alternativa que acredita e venera pedras preciosas que, vem junto com as correntezas das águas gélidas e desemboca na cachoeira. Enfim, não sou suspeito. No entanto o policial perguntou:

_Conhece Imoralidades Estrambólicas?
_Conheço... Mas não cheiro e nem bebo.

O policial desconfiado e sendo pressionado pelo assassinato da galinha angola insiste:
_ Você parece desequilibrado e mal humorado.
_Pessoas me irritam demais. Penso que não vai dar mais.

Tentei desvencilhar do policial ziguezagueando entre o pessegueiro e pé de figo cantarolando:

A insustentável leveza do cê 
Em outra vida eu te desvendei 
Saiba que hoje eu me reencontrei 
Por causa da leveza do cê...

Porem o policial metido a besta testemunhando meus olhos azuis e minha cor, perseguiu-me até o pé de figo sabendo que eu não era culpado, com arma punho e um brado decorado:

_Em nome da lei pare ou eu atiro.

Parei como um touro para diante de um mata-burro, com valentia desdobrada e sem inteligência para atravessar aquelas madeiras nas horizontais. O policial com a arma punho e um sorriso de desdém, com a voz favorecida com a situação me questiona:

_Judiação... Esse mata-burro não te deixa prosseguir? Sei que não é o assassino no entanto, conhece pessoas de cores diferentes, de diálogos diferentes, de alturas variadas, de olhares curiosos, abduzidos por vaga-lumes e que ouve Boas Bestas.

Respondi:

_Acredito que o silencio é o melhor curador... Sobre toda essa má idéia, estendo minhas mãos.

Houve um momento de silencio onde o policial é o dono da verdade, apertar  o gatilho sem dizer nada ou prolongar aquele momento, eu, com as mãos estendidas com único pensamento “Porque devemos perdoar? ”

_Tenho Transe Só e A Sutil Arte de Esculhambar Música Alheia.

Respirei fundo, um salto alto estaria protegido atrás do pessegueiro, outro salto estaria montado no Pampinho, cavalo branco e ligeiro, sem chance de questionamento estaria livre no meio das montanhas, fingindo ainda ser cobra para alimentar de cobras.

Mudando de assunto repentinamente o policial perguntou:
_Quem matou a galinha angola?
_Eu não sei – Lembrei das curvas sinuosas do raio no meio da chuva e, do barulho que o vento faz.

_Eu juro no fundo do meu ser que você sabe de alguma coisa. Fale, gesticule, dance, cante... Sei lá?

Então comecei cantar e a dançar meio sem jeito:


_Essa força que me toma 
é de um Deus 
que nasceu 
dentro da flor 

Desabrochou em mim 
e se fez assim 
lânguida cor 

Uma mistura branca 
castanho 
e laranja 
cheirei 
devaneei 
nas curvas daquela fumaça azul 
que me completou 
me completou 
completo! 

Eu cogumelo 
fui sapo 
fui lobo 
via Lua 
vi Sol 
eu fui eu fui 
eu vi eu vi 
eu fui no topo da colina de pedras 

Magnéticas pedras.



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