sexta-feira, 2 de junho de 2017

Wild Beasts - Smother


A obra-prima do Wild Beasts

Smother

A obra-prima do Wild Beasts

Ultimamente tenho feito sexo com a Fernanda principalmente quando estou embriagado, poucas foram às vezes que eu estava sóbrio. Nossos diálogos são sombrios e sem sentidos, nossos sorrisos são meios sorrisos, existe uma relutância de ambos em abrir os lábios por inteiro; a gargalhada começa e nunca termina, e, os olhos se encontram incrédulos, porém, não desistem da mesma direção, vagarosos e sem brilhos, ofuscados e lacrimejados não importa, Fernanda não importa com nada. Sexo não precisa de amor, não precisa de carinho e nem de preliminares demorados.

Fernanda sempre se levantava antes, se limpava com papel higiênico, sentava no vaso e fazia xixi e, dizia que "tava" tudo ardendo.
Um minuto depois sou era eu que me levantava preguiçosamente. O perfume de Fernanda ficava impregnado em meu corpo a semana inteira. Podia me esfregar com tamanha força e o perfume ficava como se fosse uma cicatriz aberta, o cheiro do perfume de Fernanda me sufocava. Alias tudo em Fernanda me sufocava. Seu dialogo sombrio, seu meio sorriso, sua calcinha oncinha, seu tênis rosa, seu gosto musical, seus filmes favoritos, seus livros de cabeceiras, seus seios grandes e despencados, sua tatuagem de borboleta colorida no ombro direito, brincos, pulseiras e o relógio.
Jamais voltei inteiramente completo para casa depois de fazer sexo com a Fernanda, até mesmo nos melhores dias onde tudo funcionava perfeitamente, não me sentia completo.

Conheci Fernanda dois meses depois do falecimento de minha esposa num boteco afastado do centro da cidade. Madrugada fria com poucas estrelas. Mal acomodado numa cadeira de frente pra rua “EU”, que tinha perdido recentemente minha razão de viver. Do outro lado também mal acomodada na cadeira só que do lado oposto, de costa pra rua "Fernanda" que nunca teve razão nenhuma pra viver segundo ela mesma.

Semana passada ao adentrar naquela espelunca, um quarto de pensão mal iluminado e sujo, antes mesmo de Fernanda tirar mini saia e desfilar com sua calcinha oncinha de um lado para o outro eu disse:
_ Fernanda eu trouxe algo pra gente ouvir.
_O novo da Lady Gaga.
_Melhor...
_Melhor é impossível.

A obra


Lion’s share a primeira musica fez Fernanda parar e acender um cigarro:



_ Profunda._Completou:- E esse “sonsinho” no final é muito louco.
Fernanda deitou-se ao meu lado.
_Esse é o volume Maximo do seu mp3? Gostei dessa musica também. Esse cara canta muito.
Enquanto tocava “Loop the loop”. Fernanda me surpreendeu:
_Sua esposa me fale dela. Como ela era?

Deixei rolar a primeira estrofe Plaything”.




New squeeze, take off your chemise
And I'll do as I please
I know, I'm not any kind of heart-throb
But at the same time, I'm not any sort of sloth

_Minha esposa era linda.

_Nossa isso é muito vago. O dia em que ela morreu me conta.

_Sabe Fernanda, eu nunca comentei isso com ninguém...

_Então me conta???

Invisible”.
_Nossa essa música me fez lembrar Peter Gabriel. Essa banda qual é o mesmo o nome dela?
_Wild Beasts
_Isso... Tem alguma influência do Peter?
_Não.
_Deixa pra lá. Agora me fale da sua esposa...




_Foi num entardecer de uma quinta-feira de um junho gélido e com fortes rajadas de vento que Cristina morreu. Recebi friamente a noticia pelo telefone do medico de plantão e, friamente me locomovi para o hospital. Cristina estava com câncer em fase terminal.
 Nenhuma lagrima rolou no meu rosto provido de uma barba espessa. Naquele itinerário sombrio que decidi fazer sozinho. Parei num pequeno boteco no meado do caminho. Tomei uma cerveja e comprei uma carteira de cigarros. Cheguei a conversar com o dono do boteco coisas banais com a mudança repentina do tempo, e, acendi um cigarro, estava estranhamente calmo, não estava triste como deveria. Certamente muitas pessoas já tinham chegado ao hospital em estado de choque, dando murros nas paredes ou chorando copiosamente.
 Quinta feira era um péssimo dia para morrerpensei nisso antes de pagar a conta.

_Nossa que sombrio!
_O nome dessa música é “Albatross
_Não. Estou falando do que voce me contou.



_Comprei um carro com o dinheiro do seguro de vida de Cristina. Engraçado. Cristina sempre quis um carro e eu, sempre relutei com a ideia de possuir, alegando que um carro aumentaria muito as nossas despesas e, com o salário que eu recebia era inviável. Diante da minha recusa Cristina sempre afastava tristonha e com os olhos lacrimosos. No entanto Cristina sempre voltava pensativa e com planos mirabolantes de economia, sempre com a ideia fixa de arranjar um emprego, fazia dezenas de currículos e dezenas de listas de regulamentos que deveríamos seguir para economizar. Nessas listas era tudo especificados desde da quantidade de pãezinhos de sal que deveríamos comer no café da manha até o horário do banho. As vezes fico imaginar quanto tempo Cristina gastava fazendo isto, quanto rascunhos ela teria atirado no lixo por esquecer de algum item e, tantos empregos recusou por causa dos filhos. A ideia de deixar os filhos na companhia de uma outra pessoa estranha era um grande empecilho para Cristina, talvez o maior de todos ou, o único empecilho.

_Isso é muito tenso.
_A música?
_A música também.

“_Burning.” É a minha favorita e, talvez você tenha razão, Peter Gabriel ... Meus amigos vão odiar essa comparação.



_Quinta-feira é péssimo dia para morrer. Você concorda comigo Fernanda?
Silêncio.
_Fernanda? Fernanda? Dormiu...

The end it comes too soon, too soon, too soon, too soon
The end it came too soon

Texto escrito sábado, 14 de maio de 2011

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